Análise sedimentar no Litoral Norte de São Paulo apresenta toxidade nos resultados

Publicado originalmente em: Agência Universitária de Notícias. Ano 48. Nº 07. 19/02/2015.

Estudo realizado com método proposto pela Agência de Proteção Ambiental Norte Americana revela que região é contaminada por compostos pH dependentes e metais

ln spCom o objetivo de estudar os níveis de toxidade que o sedimento marítimo pode causar nas águas intersticiais – água que ocupa os espaços entre as partículas sólidas e os sedimentos – das Enseadas de Ubatuba, do Flamengo, do Mar Virado e da Enseada de Caraguatatuba, Luís Fabiano Joaquim e Oliveira, doutor pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP), utilizou os procedimentos da Avaliação e Identificação da Toxicidade (AIT), proposto pela US Environmental Protection Agency (Usepa) – Agência de Proteção Ambiental Norte Americana. Após as analises, a avaliação evidenciou que os principais causadores dos níveis de toxidade na região são os compostos pH dependentes e os metais.

O sedimento faz-se importante dentro do ecossistema aquático, uma vez que age como uma espécie de compartimento e é o principal destino das substâncias introduzidas nos oceanos. Essa peculiaridade faz com que o sedimento se torne um depósito de poluentes, visto que o oceano está sendo alvo da poluição antrópica, principalmente vindas de efluentes domésticos e industriais sem o devido tratamento. Por isso, os níveis de poluição encontrados na área acabam sendo mais elevados do que na coluna de água adjacente. "Além disso, inúmeros processos químicos, físicos e biológicos podem ocasionar a liberação dos contaminantes inorgânicos e orgânicos persistentes presentes nos sedimentos para a coluna d’água, trazendo riscos à biota que nela vive, sendo que esses processos ocorrem por ação da natureza e/ou por ação do homem", completa o pesquisador.

A Enseada de Ubatuba, cujos pontos de estudo foram as praias do Perequê-Açu e do Itaguá, é influenciada constantemente pela urbanização da região, com predomínio da população fica, atividades de comércios e serviços e garagens náuticas. Similar a Ubatuba é a Enseada de Caraguatatuba, que ainda possui atividade industrial. Já a Ilha do Mar Virado, ponto de estudo escolhido dentro da Enseada do Mar Virado, apresenta pouca atividade impactante direta, já que não possui marina ou ocupação urbana. E, por fim, a Enseada do Flamengo, próxima ao Saco da Ribeira, tem a presença de uma grande marina náutica, além de outras de menor porte.

 

Métodos

As metodologias desenvolvidas pela AIT consistem em manipulações físico-químicas de amostras direcionadas com características dos possíveis contaminantes. Para a redução da toxidade em metais, por exemplo, adiciona-se solução de ETDTA, um quelante de metais – composto químico formado por íons metálicos –, e em seguida, acontece um ensaio ecotoxicológico e verifica-se se houve redução da toxidade, ou não. Esses ensaios são reconhecidos como ferramentas eficazes para a determinação do significado biológico da contaminação de sedimentos costeiros.

Apenas a Fase I da AIT foi utilizada durante a pesquisa. Primeiro, as amostras foram coletadas com pegador Van Veen, e em seguida a água intersticial foi retirada do material. Só então que o composto passou por manipulações envolvendo pH, adição de compostos nas amostras, entre outros. Já para analisar a toxicidade da água intersticial, o ensaio de toxidade crônico de curta duração, realizado com ouriço-do-mar da espécie Lytechinus variegatus, foi o método utilizado.

 

Sazonalidade não varia a toxidade

Dos pontos analisados, os que apresentaram uma situação mais crítica em relação à toxidade firam os de Perequê-Açu e Caraguatatuba. Itaguá, Saco do Ribeira e Ilha do Mar Virado apresentaram toxidade em metade das amostras coletadas. Além disso, a identificação dos compostos químicos responsáveis pela toxidade da água intersticial ficou de acordo ao que estava publicado na AIT.

“As manipulações analisadas evidenciaram como responsáveis pela toxicidade, ao longo de todo o estudo, os metais e os compostos pH dependentes (pH7 – com redução) para o ponto Perequê-Açu. Para o ponto Itaguá também foram evidenciados como responsáveis pela toxicidade os metais e compostos pH dependentes (pH9 – com redução). Na Ilha do Mar Virado as evidências trazem os compostos relacionados ao material em suspensão. Já as manipulações realizadas nas amostras de Caraguatatuba demonstram evidencias de que os metais foram os responsáveis pela toxicidade, visto que houve redução da mesma nas manipulações EDTA e Tiossulfato”, afirma Luís.

Por fim, observa-se na pesquisa que, ao analisar a variabilidade sazonal dos efeitos estudados, não houve um padrão sazonal relacionado à toxidade em todas as estações do ano, somente na Primavera. Nessa estação, a toxidade pôde ser observada em todas as amostras testadas, enquanto que nas demais épocas de coleta aconteceu uma variação dos pontos tóxicos.

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