Expedição marítima parte de Santos para analisar mudanças climáticas

Fonte: A TRIBUNA

Grupo que deixou o Porto na sexta-feira analisa impactos no Atlântico Sul e no planeta

Analisar os impactos das mudanças climáticas no Atlântico Sul e colher informações sobre a água do mar nessa região estão entre os objetivos de uma expedição científica que partiu do Porto de Santos, na última sexta-feira (20). O projeto reúne 20 especialistas brasileiros e estrangeiros, que deixaram o complexo marítimo para uma viagem de 17 dias a bordo do navio de pesquisas oceanográficas

Alpha Crucis, do Instituto Oceanográfico da Universidade Federal de São Paulo (IOUSP). A previsão é que cheguem nesta segunda-feira (23) ao primeiro ponto de pesquisa.

A expedição faz parte do projeto Sambar e é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O cruzeiro é a bordo do navio Alpha Crucis, que chega na segunda-feira à divisa com o Uruguai (Foto: Carlos Nogueira/AT)

Os cruzeiros do Alpha Crucis ao Sul do País começaram em 2012 e acontecem duas vezes por ano. Nessas viagens são coletadas e comparadas informações como temperatura, salinidade, concentração de carbono, pressão e oxigênio da água do mar.

Esses dados são importantes para prever a reação dos oceanos diante da interferência humana dos últimos anos.

Entre os brasileiros estão pesquisadores do IOUSP, da Universidade Federal do Ceará e da Universidade Federal da Bahia. E ainda há cientistas da Argentina, do Uruguai e dos Estados Unidos.

"O oceano, pela grande quantidade de água e alto calor específico, é a memória térmica do planeta. O clima do planeta é totalmente controlado pela água do oceano", afirmou o professor Edmo Campos, do IOUSP, responsável pelo projeto.

Os trabalhos acontecerão a cerca de 800 quilômetros da costa, em 28 locais definidos na direção do Chuí, na divisa do Brasil com o  Uruguai. Lá, a profundidade gira em torno de 4,3 quilômetros (praticamente a extensão da Avenida Conselheiro Nébias, que vai do Centro até a orla de Santos). Segundo o docente, a equipe usa quipamentos da própria universidade e aparelhos cedidos

por  pesquisadores norteamericanos - grandes interessados nas pesquisas no Atlântico Sul, pois os resultados poderão prever fenômenos climáticos no Hemisfério Norte.

Laboratórios

O Alpha Crucis conta com cinco laboratórios. Nessa viagem, quatro deles serão utilizados - os dois destinados às análises químicas da água do mar, como acidez, concentração de carbono e identificação de elementos e nutrientes; e os dois usados para estudar as propriedades físicas da água, como temperatura e salinidade. O quinto laboratório do navio é reservado para análises biológicas, que não serão feitas nesta viagem.

Para realizar estes testes, a equipe conta com um processo específico para captação da água. Ele utiliza 24 garrafas especiais, que coletam amostras em profundidades pré-determinadas pelos pesquisadores. "Temos um cabo de cinco mil metros de comprimento, feito de aço e com um núcleo condutor. Na ponta dele, há um instrumento que vai medindo propriedades como concentração

de sal, oxigênio, temperatura, pressão e também a velocidade utilizando um perfilador acústico. Toda informação obtida é transmitida para bordo e uma série de computadores vai registrando para posterior análise", explicou o pesquisador, chefe da expedição.

Campos também detalhou o processo de instalação e remoção de ecossondas, aparelhos com sensores que são depositados no fundo do oceano. Eles coletam informações e as armazenam durante um ano, até serem retiradas durante as viagens. Cada um custa cerca de US$120mil (R$409mil). Hoje, há seis e cossondas instaladas na região pesquisada. Nesta expedição, estão previstas a troca debaterias e a remoção de informações coletadas desses equipamentos. Segundo Campos, são necessárias cerca de seis horas para o processo. Isso inclui a estabilização da temperatura dos aparelhos, que normalmente são negativas.

E resultados já aparecem, diz o professor. "O sistema está começando a demonstrar impactos de coisas que acontecem a milhares de quilômetros ao Sul. Se nós entendermos melhor o que está acontecendo no Atlântico nessa região, vamos estar fornecendo condições para que as previsões do clima não só no Brasil, mas no planeta como um todo, sejam mais confiáveis e apuradas. Isso é uma contribuição importante porque, se você faz uma previsão climática com possibilidade de erro de 10%, em vez de 20%, significa que o dispêndio de recursos para precaver e eventualmente se adaptar são menores", destacou Edmo Campos.

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