I. Características do ecossistema e um breve histórico

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A Antártida é o quinto maior continente, localizado entre o Pólo Sul Geográfico (latitude 90ºS) e o paralelo 60ºS. Devido a esta localização, o território antártico, durante a metade mais quente do ano (outubro a março), possui longos períodos de claridade, chegando a ter sol acima do horizonte durante as 24 horas do dia e o inverso na metade mais fria do ano (abril a setembro). É o mais alto, ventoso e frio dos continentes. Aproximadamente 98% do território é coberto por um manto permanente de gelo que atinge a espessura de até 5 km e se estende além da costa formando as plataformas de gelo (a maior delas forma-se no Mar de Ross). Calcula-se que cerca de 70% da água doce do planeta está armazenada na forma sólida compondo o manto de gelo antártico. Através da ação dos ventos, das ondas e do aquecimento na primavera, as bordas dessas plataformas frequentemente se quebram formando os icebergs. Ao redor do continente há ainda uma camada de água do mar congelada cuja superfície varia de 2,7 milhões km2 (verão) a 22 milhões km2 (inverno).

antartida01aFigura 1 – Mapa do continente antártico durante o verão e o inverno austral de 2004. (fonte: earthobservatory.nasa.gov)


A vida na Antártida está condicionada a parâmetros ambientais extremos, de modo que os animais que ali vivem são evolutivamente adaptados para aquele tipo de ambiente, e por isso o endemismo desta região é muito alto, isto é, a ocorrência de muitas espécies é restrita apenas a esta área. A vida terrestre concentra-se em uma pequena faixa de terras costeiras que ficam livres de gelo no verão. Nessas áreas ocorrem pequenos invertebrados, microrganismos, algas, fungos, gramíneas, bem como musgos e liquens. No mar, entretanto, a vida é bastante abundante, composta por invertebrados (ex. crustáceos e moluscos), peixes, focas, baleias, pingüins e outras formas de vida, formando comunidades complexas que variam de acordo com as diferentes regiões. Na zona de gelo sazonal, onde o mar congela no verão e permanece livre de gelo no inverno, o krill, crustáceo abundante nessas águas, pode ser considerado como um dos principais elos de sustentação da cadeia alimentar transferindo a energia da produção primária das algas para os animais.

antartida01bFigura 2 – Krill – Euphausia superba, (a) indivíduo e (b) aglomeração no oceano austral (fonte: a - coolantarctica.com / b - Disney Enterprises)


A história da exploração do Oceano Austral e do continente antártico é relativamente recente, iniciada somente há cerca de três séculos. O interesse econômico foi o que motivou as primeiras navegações rumo ao Oceano Austral. No final do século XVIII, exploradores como James Cook, relataram a existência de grandes quantidades de focas e de elefantes-marinhos no Oceano Austral, o que atraiu muitos caçadores na esperança de lucro. O valor econômico destas descobertas era extraordinário, uma vez que a gordura e os ossos destes animais tinham inúmeras aplicações atendendo às necessidades comerciais e industriais da época. Este fato quase causou a extinção de algumas espécies de focas mesmo antes da descoberta do continente. Entretanto, vale lembrar que importantes descobertas geográficas e científicas foram feitas graças às viagens feitas a bordo de navios de caça.

antartida01cFigura 3 – Caça às focas na Antártida (fonte: americanpolar.org)


Após o período de caça às focas e elefantes-marinhos, iniciou-se uma era de investigações científicas com importantes expedições no século XIX. Entre nomes importantes desta história, estão James Clark Ross, Adrien de Gerlache, Robert Falcon Scott, Ernest Schakleton e Roald Amundsen. Há menos de 100 anos o capitão Roald Amundsen e sua equipe norueguesa foram os primeiros a alcançar o Pólo Sul geográfico, em 14 de dezembro de 1911. Entretanto, a exploração comercial continuava com a caça às baleias. Esta teve início por volta de 1914, entrou em declínio com o extermínio dos estoques, foi proibida por moratória em 1986, mas continua, infelizmente, até hoje.

antartida01dFigura 4 – Embarcação baleeira oceano austral (fonte: The cruise of the Cachalot)


Com o declínio da indústria do óleo de mamíferos marinhos, a captura comercial de peixes teve um rápido crescimento, e em pouco tempo, os estoques das espécies mais capturadas sofreram um declínio acentuado, em algumas regiões, e a pesca precisou ser controlada. A exploração econômica no Oceano Austral ainda existe, sendo voltada principalmente, para recursos naturais como o krill antártico e algumas espécies de peixes de alto valor comercial, como a merluza-negra, que já se encontra ameaçada. A pesca do krill é de interesse internacional, sendo o Japão um dos países que mais investe nesta pesca. Atualmente sua pesca é incipiente, mas é também controlada, pois este pequeno crustáceo é a base da teia alimentar de várias espécies de peixes, aves e mamíferos marinhos, muitas destas ameaçadas de extinção.

antartida01eFigura 5 – (esquerda) Propaganda de consumo de produtos à base de Krill e (direita) Krill enlatado vendido no Japão (fonte: healthresource4u.com & http://swfsc.noaa.gov)''


Leitura sugerida:
Walton, D. W. H. (Ed.) (1987). Antarctic Science. Cambridge University Press.
Localização na biblioteca do IOUSP: (999 W197a antart e.1) (999 W197a antart e.2)

 

Autores: Aline Kirschbaum; Caio Cipro; Fernanda Imperatrice; Franco Villela; Gabriel Monteiro; Hileia dos Santos Barroso; Ralph Vanstreels
Coordenação: Prof. Dr Vicente Gomes

 

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