Interações ecológicas

Prof. Dr. Tito Monteiro da Cruz Lotufo

Os diversos ecossistemas marinhos são resultado de uma teia complexa de processos e eventos evolutivos e ecológicos. A história evolutiva, os eventos geológicos e os padrões e processo ecológicos vão produzindo e modificando as comunidades biológicas que habitam os ambientes marinhos desde a origem da vida no planeta. Dentre os processos com maior relevância na organização dessas comunidades estão o que chamamos de “Interações Ecológicas”.

As interações surgem a partir do momento em que os organismos habitam o mesmo espaço ou compartilham um mesmo recurso, como alimento, oxigênio, ou mesmo um parceiro para o acasalamento. Dessa forma, podemos ter relações entre espécies diferentes, que chamamos de relações “interespecíficas”, ou ainda aquelas entre indivíduos da mesma espécie, as relações “intraespecíficas”.

Se considerarmos o grande número de espécies presentes nos ecossistemas marinhos, vamos nos dar conta de que há na verdade um número enorme de interações. As interações podem resultar em prejuízo para ambas as espécies em questão. Um exemplo deste tipo de interação é a COMPETIÇÃO, que resulta do conflito no uso de um determinado recurso, como espaço para viver ou alimento. A competição gera um “custo” em termos de energia para ambas as espécies envolvidas. Na figura abaixo é possível perceber a competição acirrada por espaço em um recife, entre espécies de ascídias, esponjas e algas calcárias.

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Uma outra forma de interação bastante comum e fácil de compreender é aquela que gera ganho para um dos envolvidos e perda para o outro. É o caso da PREDAÇÃO, HERBIVORIA, e PARASITISMO. Nesses casos, quando um animal se alimenta de outro organismo ele se beneficia e prejudica o outro. Este tipo de interação é fundamental na organização da comunidade, pois existe um certo controle entre as populações envolvidas. Como exemplo, a ausência de um predador pode fazer com que a população da presa aumente muito. É o que vem ocorrendo hoje com a pesca predatória sobre grandes predadores, como os tubarões.

A HERBIVORIA é um elemento fundamental, e da mesma forma, alterações nas taxas de herbivoria podem causar mudanças importantes nos ecossistemas, pois as algas competem com os corais e outros organismos nos recifes. Já é bem documentado que a remoção de herbívoros nos recifes de coral podem resultar na diminuição da cobertura de corais, devido ao crescimento excessivo das algas. Algumas décadas atrás, a mortalidade em massa da espécies de ouriço Diadema antillarum (na foto abaixo), levou a mudanças importantes nos recifes de coral do Caribe.

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É possível que numa interação uma das partes se beneficie, sem gerar prejuízo ou benefício em termos energéticos para o outro. É o caso do COMENSALISMO, e também dos organismos que se alimentam de detritos ou organismos já mortos. Muitos camarões se alimentam apenas de dejetos, e alguns animais também vão se aproveitar apenas dos restos da alimentação de outros bichos.

Um dos casos mais interessantes de interações ecológicas ocorre quando há benefício mútuo entre os envolvidos. A estes casos damos o nome de MUTUALISMO. Um exemplo disso está na associação entre o peixe-palhaço e a anêmona, como ilustrado abaixo. Nesses casos o peixe-palhaço é protegido pelos tentáculos urticantes da anêmona, que não os prejudica, enquanto a anêmona aproveita os restos do alimento conseguido pelo peixe.

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As associações entre espécies estão presentes em todos os organismos em diversas escalas. Associações obrigatórias e muito estreitas são denominadas SIMBIOSES. Em muitos casos, simbioses não são exatamente mutualísticas. Um exemplo disso ocorre nos corais, que vivem em associação com microalgas em seus tecidos. Nesse caso o coral depende da microalga, mas o inverso nem sempre é verdadeiro.

Além das interações entre animais e organismos de grande porte, todos os seres vivos carregam em si um pequeno universo de microrganismos. Nós mesmos vivemos em íntima associação com uma comunidade de bactérias que vive nos nossos intestinos e na nossa pele. Na verdade, dependemos tanto desses organismos que hoje há o conceito de HOLOBIONTE, que se refere ao indivíduo em conjunto com todas as outras espécies que vivem em associação com ele.

A compreensão das interações ecológicas são fundamentais para que possamos prever o resultado de impactos ambientais e, mais do que isso, evitar que o funcionamento dos ecossistemas seja comprometido. Hoje já sabemos alguma coisa sobre como as comunidades marinhas se organizam, mas resta ainda muito a se investigar.

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