Erosão Costeira

Dr. Paulo Henrique Gomes de Oliveira Sousa

A erosão costeira ocorre em 70% das praias arenosas do planeta, o que torna esse processo uma preocupação global (Bird, 2008). A variação de sedimentos numa praia (ganho e perda) é chamado de balanço sedimentar. A erosão ocorre quando o balanço sedimentar de uma praia é negativo, ou seja, quando a praia perde mais sedimentos do que recebe. O recuo da linha de costa é uma consequência deste processo.

As principais fontes de sedimentos para uma praia são suprimento fluvial, materiais depositados por ondas, alimentação artificial e sedimentos transportados das dunas, pós-praia e falésias ou costas rochosas. Os sumidouros de sedimentos podem ser areias removidas por ondas e correntes que atuam junto à costa, areias transportadas para o continente que irão compor campos de dunas e ou serem depositadas em estuários e a retirada de areia para construção civil.

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Erosão costeira na região da Ilha Comprida (SP). Fotos: Paulo Henrique Gomes de Oliveira Sousa.

A erosão costeira pode variar no tempo onde ocorrem processos rápidos e visíveis que alteram a costa em poucos meses ou anos ou em um período de tempo mais longo (décadas por exemplo). Nesse caso a erosão é pouco perceptível. Existe também a variação espacial, onde há o recuo da linha de costa, solapamento de falésias, escarpas de dunas e derrubada da vegetação.

Desta forma, as causas da erosão podem ser naturais, antrópicas ou um resultado da interação entre os dois. Como causas naturais podem ser listados o aumento do nível do mar, a intensificação de tempestades, a subsidência tectônica e as alterações nas bacias hidrográficas. Como causas antrópicas podemos citar a subsidência do solo, a retirada de areia para atividades humanas e a construção de barragens. Nesse contexto, a associação dessas causas gera o aumento de altura e energia das ondas que chegam à costa, a intensidade da erosão, a redução no aporte de sedimentos e alterações drásticas no balanço sedimentar.

O Brasil apresenta um litoral predominantemente dominado por ondas e caracterizado por praias arenosas, falésias sedimentares, estuários, manguezais, lagunas e costões. Além disso, o clima atuante no nosso litoral vai desde o úmido equatorial, passando pelo tropical semiárido, até o subtropical do Sul com diversidades em suas características geológicas e geomorfológicas (Neves e Muehe, 2008). A heterogeneidade paisagística do litoral brasileiro é tão relevante quanto os diferentes tipos de ocupação, processo intensificado no último século e ainda crescente.

O censo de 2010, realizado pelo IBGE, apontou que a densidade populacional do Brasil é maior nas regiões próximas do litoral, em especial nas capitais do norte e nordeste e algumas do sudeste. Para o nosso litoral, foram verificados processos erosivos em todos os Estados. Muito embora ela não ocorra de forma homogênea, mas em focos ou hotspots, seus danos preocupam quando afetam a infraestrutura urbana.

O processo de ocupação desordenado do litoral exerce papel importante na estabilidade da linha de costa ao limitar a área de atuação dos processos costeiros. Não são raros os casos onde o crescimento urbano ocorre na zona de pós-praia afetando diretamente o balanço sedimentar de uma praia.

Para mitigar ou sanar os danos causados pela erosão são, em geral, realizadas obras de engenharia costeira com caráter de contenção como espigões, gabiões e seawalls associadas com a alimentação artificial de praias, vegetação e dunas. Ações preventivas são mais indicadas para evitar prejuízos maiores, algumas delas podem ser controle de uso, ocupação e exploração do solo (Cai et al., 2009).

 

Referências

BIRD, E.C.F. 2008. Coastal Geomorphology: An introduction. 2nd edition. Chinchester. Wiley and Sons. 436 pp.

CAI, F., XIANZE, S.; LIU, J.; LI, B. LEI, G. Coastal erosion in China under the condition of global climate change and measures for its prevention. Progress in Natural Science, v. 19, n. 4, p. 415-426, 2009.

NEVES, Claudio Freitas; MUEHE, Dieter. Vulnerabilidade, impactos e adaptação a mudanças do clima: a zona costeira. Parcerias estratégicas, v. 13, n. 27, p. 217-296, 2008.

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