Saco da Ribeira teve alterações em sua composição nos anos 60

Originalmente publicado em: Agência Universitária de Notícias. Ano 48. Número 04. 22/01/2015.

Estudos comprovam, através da análise de multi-indicadores, que região sofreu alterações no ano de 1967. Motivo ainda é incerto.

raquel renoA evolução ambiental do Saco da Ribeira, em Ubatuba, a partir de multiindicadores foi o alvo do estudo de Raquel Renó de Oliveira, recém-graduada pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP). Através da análise de quatro indicadores base, e de outros gráficos que comprovavam a visão determinada através do estudo, foi possível concluir que algumas alterações aconteceram na região, com destaque para o ano de 1967.

Para a pesquisa foram coletados alguns testemunhos, e apenas os 50 centímetros do topo, que datam desde de 140 anos atrás, foram utilizados. Para estudar os foraminíferos como indicadores, a coluna foi separada em 11 amostras, de 5 em 5 centímetros de espaçamento, enquanto que para medir a quantidade de metais e não metais, a granulometria e o crescimento de matéria orgânica do sedimento, foram utilizadas 26 amostras, separadas em um intervalo de 2 em 2 centímetros.

O foco do estudo ficou nos foraminíferos, protozoários eucariontes (cujas células são envolvidas uma membrana chamada carioteca), que possuem um grande número de formações. Por isso, cada tipo de organismo vai se adaptar melhor ou pior a algum tipo de situação do ambiente, o que faz dos foraminíferos bons indicadores de alterações. Para o estudo desses indivíduos, foi feita a lavagem do material sedimentar, que em seguida é peneirado, separado dos sedimentos mais grossos, e por fim, separado definitivamente do material sedimentar.

Já os outros indicadores agiram de forma complementar ao estudo, apenas como uma forma de confirmar as mudanças previstas nos foraminíferos. No caso da análise dos metais, foi utilizado o método de digestão parcial, além do enriquecimento, em que se normaliza o ambiente de estudo com um tipo de metal – na análise, o utilizado foi o escândio. Já o procedimento utilizado para o nível de matéria orgânica consistiu em descarbonatar a amostra, enquanto que para a granulometria, além da descarbonatação, também houve a retirada de matéria orgânica.

 

Chuvas intensas e construção da marina na região

Em relação aos metais, pode-se perceber um aumento, ou pelo menos uma alteração, a partir dos 20 centrímetros iniciais, do topo para base, principalmente o cobre, zinco, alumínio e manganês. Essa faixa sedimentar está ligada às décadas de 60 a 70, quando houve uma grande urbanização da região. “Além disso, marina da região foi construída em 1967, o que alterou o ambiente marinho. O histórico também aponta fortes chuvas ocorridas em Caraguatatuba, também em 1967, fato que pode ter se estendido em todo o litoral norte, e o volume de lama que desceu da serra pode ter interferido na região em algum momento também”, afirma a pesquisadora.

Nessa época também houve um aumento de cálcio, sendo que este elemento somado ao alumínio e ao manganês ajudam a formar as tintas utilizadas em barco. Por isso, as alterações ocorridas entre os anos 60 e 70 podem ser justificadas, não só, mas também pela presença da marina. Em relação à matéria orgânica, sua quantidade aumentou quase em metade da quantidade anterior da base para o topo a partir dessa mesma época. Isso indica que está ocorrendo eutrofização no ambiente, em que a quantidade de matéria orgânica aumenta, e as taxas de oxigênio diminuem. Isso acarreta em uma readaptação da fauna, em que os organismos mais acostumados a esse ambiente resistem a ele, e os desacostumados, desaparecem.

Os resultados da granulometria mostram que a região não variou tanto quando ao tipo de sedimento. Isso porque a região é bem reclusa e porque, muito provavelmente, sua corrente de fundo não se alterou ao longo dos tempos. Uma pequena alteração ligada ao aumento de argila pôde ser encontra em 1967, o que pode estar ligado, mais uma vez, às fortes chuvas na região. Finalmente, quanto aos foraminíferos, foi possível concluir que a quantidade de organismos por amostra teve uma diminuição brusca. “Na base, tinham cerca de 23 mil organismos, na porção intermediária, que também está ligada ao ano de 67, apresentou cerca de 64, e depois a quantidade começa a aumentar de novo e no topo chega a 800. Não chega a ser uma recuperação toal, mas há uma leve recuperação”, completa Raquel.

Quanto à formação dos foraminíferos no sedimento, o Euphidium e a Buliminella elegantissima diminuem de densidade da base para o topo. Como Euphidium é epifaunal, ou seja, fica na porção mais superficial, e é herbívoro, não resiste à eutrofização (aumento da matéria orgânica e consequente diminuição do oxigênio) recente do meio. Já a Ammonia tepida, como é mais adaptada a ambientes infaunais, mais profundos, responde melhor à eutrofização e aumetnou a densidade da mesma análise de amostra. "Quanto à Ammonia parkinsoniana, aconteceu uma diminuição da densidade para o topo porque é mais sensível aos metais. O acumulo visto nos outros gráficos pode estar diminuindo sua concentração. Os metais não são contaminantes, mas já estão influenciando o meio", explica a pesquisadora

De modo geral, ainda não pôde ser visto algum tipo de contaminação na região, mas caso os níveis dos materiais estudados continuem crescendo, é muito provável que em breve o Saco da Ribeira esteja poluído. Além disso, é necessário que sejam feitos estudos datando de antes da década de 60 na região para que haja uma comparação mais fiel sobre a área.

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