Pesquisa inédita analisa comportamento das lulas no Sudeste de São Paulo

Originalmente publicado em: Agência Universitária de Notícias. Ano 48. Nº 127. 10/12/2015.

Pesquisador do IO-USP observa pela primeira vez comportamento de lulas no Estado de São Paulo

lula felippe postumaCaiçara de São Sebastião, Felippe Aldert Postuma, pesquisador do Laboratório de Ecossistemas Pesqueiros (LabPesq) do Instituto Oceanográfico da USP (IO), vem desde a graduação desenvolvendo pesquisa com lulas. Já no começo dos estudos, Postuma percebeu uma lacuna de informações sobre esses cefalópodes, considerados um dos animais mais inteligentes do mundo, e se dedicou a observar esses organismos e forma inédita no país em sua pesquisa desenvolvida com a orientação da Profa. Dra. Maria Gasalla.

Postuma relata que a falta de um estudo centrado nesse tipo de cefalópode no Brasil era prejudicial para análises ambientais e registros acadêmicos. O pesquisador ainda ressalta as dificuldades em executá-lo por ser um trabalho inédito, desde dificuldades em isolar indivíduos em tanques até conseguir reproduzir as melhores condições em laboratório para o animal.

Os estudos mostraram que as lulas apresentavam 19 padrões de coloração, sendo que em 4 deles elas ficavam transparentes e nos outros 15 elas formavam uma cor sólida através de suas células cromáticas. As análises focaram os processos de reprodução e alimentação das lulas da espécie Doryteuthis plei na região de Ilha Bela e São Sebastião, no Estado de São Paulo. “Através do sistema nervoso central, transmitem impulsos nervosos às células cromáticas no manto, o que pode determinar qual coloração elas vão apresentar”, diz Postuma.

O pesquisador ressalta o quanto esse comportamento configura as lulas como um dos animais aquáticos mais inteligentes, uma vez que são capazes de camuflar, despistar ameaças e se comunicar para selecionar o melhor parceiro na hora da reprodução. “Um casal de lulas pode se comunicar praticamente durante o dia todo”, ele conta.

Além disso, a pesquisa também observou, pela primeira vez na América do Sul, a desova do animal em ambiente natural. A equipe também analisou parte dessa desova em laboratório, conseguindo registrar o comportamento de paralarvas de 4 dias de vida através de equipamentos especiais que conseguem filmar em câmera lenta.

A pesquisa já foi apresentada em 2012 no Congresso Mundial de Cefalópodes, em Florianópolis. O trabalho também apresenta uma grande importância na vida socioeconômica das populações caiçaras, uma vez que a lula é um dos principais recursos durante o período do verão. Além disso, segundo o pesquisador, esses animais são um elo no cadeira alimentar do Sudeste de São Paulo, pois são alimento para diversos animais enquanto se alimentam de outra vasta gama de espécies. O projeto foi financiado pelo CNPq e pelo Biota Fapesp, uma iniciativa que visa estudar a diversidade dos organismos do Estado de São Paulo e contemplou o Projeto Lula, dedicado aos cefalópodes no IO.

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