Pesquisa projeta aumento de 1,5º Celsius na temperatura da Terra

Fonte: AUN USP

AUMENTO ESTÁ PREVISTO ATÉ O FIM DO SÉCULO CASO NADA SEJA FEITO PARA MITIGAR AQUECIMENTO GLOBAL

Antártica [Fonte: Pixabay (2020)]

Pesquisadores do Instituto Oceanográfico da USP estudam as mais recentes projeções climáticas para a Antártica e para o Oceano Antártico com base no desenvolvimento econômico global. As previsões utilizam o CMIP6, modelo climático desenvolvido pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), criado pelas Nações Unidas (ONU). “É um projeto em que temos países do mundo inteiro, cada um com o seu modelo, contribuindo para tentar entender o clima daqui pra frente”, explica Marcos Tonelli, professor do departamento de Oceanografia Física, Química e Geológica do Instituto Oceanográfico da USP e um dos autores do estudo. Modelos climáticos são programas computacionais complexos que rodam em milhares de núcleos de processamento e são desenvolvidos por diversos biólogos, químicos, físicos, oceanógrafos e meteorologistas, cada um responsável por sua área de especialidade, em um trabalho coletivo para reproduzir o sistema climático terrestre. Foram doze modelos diferentes analisados na pesquisa, o que exigiu uma grande capacidade de armazenamento e análise por parte dos pesquisadores. O desafio não é acessar o dado (visto que ele é livre), mas sim, armazenar e processar o conteúdo.

Por que estudar a Antártica?

As variáveis analisadas para o artigo foram precipitação, temperatura do ar e temperatura da superfície do mar, todas diretamente relacionadas ao aquecimento global. Para regular o clima da Terra, é no oceano que acontece o processo de circulação de revolvimento meridional. Ele funciona como uma esteira com dois níveis, sendo o nível superior quente no Atlântico Norte —  que absorve o calor da atmosfera que chega do sol —, e o nível inferior frio no Mar de Weddell, na Antártica —  que redistribui o excesso de calor para a atmosfera e regula a diferença meridional, mantendo o clima como ele é. 

Representação do transporte de calor resultante da interação de várias correntes e massas de água no oceano, responsável por redistribuir o excesso de calor do trópicos (baixas latitudes) para os polos (altas latitudes). [Elaboração: Marcos Tonelli (2020)]

Analisar esse processo permite que tenhamos uma visão ampla de como a temperatura global poderá ser influenciada ao longo dos anos e da ação humana. Mas por que estudar justamente a mudança de temperatura na Antártica? Tonelli explica que é neste continente que temos a formação de águas profundas, processo que influencia a redistribuição de calor do planeta. É a Antártica também que tem a capacidade de amortecer as mudanças climáticas, absorvendo e gerindo as variações climáticas da Terra. “Se tivermos algum processo que interrompa ou desacelere a formação de águas profundas, toda essa esteira começa a desacelerar também. Se atrapalhamos esses processos, atrapalhamos o clima do globo inteiro”.

Cenários possíveis para o futuro

Segundo o pesquisador, em todos os cenários das simulações climáticas da pesquisa há aquecimento global, tanto na atmosfera, quanto no oceano e na mudança no padrão de precipitação. Nos dois cenários que não preveem medidas de mitigação aos danos causados ao meio ambiente e maior pressão antrópica, a Terra deve ter um aumento de 1,5º Celsius. Embora pareça ser um número pequeno, esse aumento já colabora para a elevação do nível do mar, além de outras consequências: “Nestes cenários a resposta do sistema climático vai ser muito mais intensa porque o que temos é um excesso de energia sendo acumulado. Esse excesso de energia tem que ser dissipado de alguma maneira, e via de regra, é na forma de eventos extremos.”

Um exemplo de evento extremo que convivemos no Brasil é o chamado “onda de calor”, fenômeno climático que consiste em ao menos três dias consecutivos com temperaturas mais altas do que as esperadas para a mesma região e época do ano. Segundo projeções de estudo publicado na revista Plos Medicine, o Brasil será o terceiro país com mais vítimas de problemas de saúde decorrentes de altas temperaturas até 2080. 

Já os cenários em que a sociedade como um todo se compromete a adotar um padrão de desenvolvimento mais sustentável, mostram o aquecimento global dentro dos limites da variabilidade natural, ou seja, oscilações periódicas e naturais no clima. O caminho para vivermos o melhor cenário possível, é termos um comprometimento coletivo para com o meio ambiente: “Apesar de todos os cenários mostrarem uma mudança, a gente tem uma opção de caminho que é bem interessante para a humanidade, mas precisa do comprometimento de todo mundo. O aquecimento vai chegar, o ponto é o que vamos fazer e o quanto vamos nos adaptar para isso”, finaliza o pesquisador.

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