ONU começará a avaliar pedidos de mineração no leito oceânico em julho

Fonte: Um Só Planeta

Após polêmicas e expectativa de que uma moratória poderia ser estabelecida, órgão regulador segue adiante com plano de regulamentar atividade até meados de 2023

ONU começará a avaliar pedidos de mineração no leito oceânico em julho
ONU começará a avaliar pedidos de mineração no leito oceânico em julho Getty Images

A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA) - órgão afiliado à ONU que é responsável por governar a mineração em alto mar - afirmou que começará a aceitar pedidos de empresas que desejam obter permissão para promover atividades de mineração no fundo do oceano em julho. A foi decisão foi anunciada depois que o órgão passou as últimas duas semanas debatendo os padrões para a nova e controversa prática.

A atividade, cujos impactos ambientais preocupam especialistas, deve extrair minerais como cobalto, cobre, níquel e manganês - essenciais para a produção de baterias - de rochas chamadas "nódulos polimetálicos", que ficam no fundo do oceano em profundidades que vão de de 4 a 6 km.

Para coletar os nódulos, um veículo de mineração arrasta um trenó por uma parte do solo oceânico — gerando uma pluma de sedimentos — e suga as rochas por um tubo, enviando-as até a superfície. Os sedimentos indesejados são então separados dos nódulos e descarregados de volta ao oceano, criando outro tipo de pluma, chamada pluma de descarga. Desde a década de 1990, quando os esforços de mineração em alto mar foram interrompidos, o método nunca foi feito em grande escala, então os cientistas ainda não estudaram seus efeitos na biologia marinha.

"Este resultado profundamente irresponsável é uma oportunidade desperdiçada de enviar um sinal claro... de que a era da destruição dos oceanos acabou", disse Louisa Casson, do Greenpeace, à Reuters.

Atualmente, a China é líder na exploração de mineração em alto mar, mas países como Alemanha, Espanha, Nova Zelândia, Chile, França, Palau e Fiji, entre outros, recentemente pediram uma moratória global sobre a prática, citando preocupações ambientais e falta de dados científicos suficientes. Até mesmo algumas das companhias multinacionais que teriam muito a ganhar com o aumento da oferta de minerais no mercado internacional se posicionaram contra. BMW, Google, Renault, Samsung e Volvo firmaram um compromisso proposto pela WWF.

“A comunidade internacional está muito preocupada com a futura exploração do mar profundo porque não se sabe o impacto [ambiental] que isso pode causar”, esclarece o professor do Instituto Oceanográfico da USP Frederico Brandini, que, entre 2015 e 2019, coordenou pelo lado brasileiro o programa Security of Supply of Minerals Resource (SoS Minerals), que tentou determinar a origem dos depósitos minerais submarinos em colaboração com pesquisadores do Reino Unido.

O advogado britânico Michael Lodge, atual secretário-geral da ISA, foi criticado este ano por diplomatas que afirmam que ele os estava pressionando para acelerar o início da polêmica atividade, de acordo com fontes do conselho administrativo da ISA ouvidas pelo jornal New York Times. Diplomatas da Alemanha, da Costa Rica e de outros países dizem acreditar que Lodge "saiu da linha" ao resistir aos esforços de alguns membros do conselho que poderiam retardar a aprovação das propostas.

O governo alemão chegou a enviar uma carta a Lodge expressando suas preocupações. Em carta resposta enviada ao governo da Alemanha, Lodge chamou as queixas dos diplomatas da ISA de "uma alegação ousada e sem fundamento, sem fatos ou provas".

Em meados de 2021 Nauru – uma nação insular do Pacífico com menos de 11 mil habitantes – solicitou a aprovação da ISA para começar a explorar o fundo do mar em parceria com a startup canadense The Metals Company. Neste pedido específico, o alvo é a Zona de Clarion-Clipperton (CCZ), um trecho de 4,5 milhões de quilômetros quadrados do oceano Pacífico localizado entre o México e o Havaí, sabidamente rico em minerais.

Desde então o conselho administrativo da ISA vem realizando diversas reuniões para estabelecer quais seriam os padrões para permitir a exploração de minerais no fundo do oceano e agora, cumprindo prazo que havia sido estabelecido na época, formulou um projeto de decisão.

Segundo o Serviço Geológico dos EUA , as minas oceânicas profundas poderiam fornecer entre 35% e 45% de todas as necessidades de metal do mundo até 2065. Os campos de nódulos polimetálicos na CCZ do Pacífico representam o maior recurso conhecido e não desenvolvido de níquel do planeta. Descobertas recentes indicam que áreas remotas no Mar da Noruega e no Mar da Groenlândia têm 38 milhões de toneladas de cobre, quase o dobro do volume extraído globalmente a cada ano, e 45 milhões de toneladas de zinco acumuladas em sulfetos polimetálicos, entre outros minerais, como níquel, cobalto e manganês.

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