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Publicado: Quarta, 13 Setembro 2023
Fonte: AUN
PESQUISA ANALISA FENÔMENOS MARINHOS QUE VÊM SE INTENSIFICANDO À MEDIDA QUE A TEMPERATURA DO OCEANO AUMENTA. PESCA DE SARDINHA NUNCA MAIS VOLTOU AOS PATAMARES DOS ANOS 1970
Imagem: Reprodução / PxHere
Na tese Dipolo Subtropical do Atlântico Sul e Capturas de Sardinella Brasiliensis no Contexto de Aquecimento da Superfície do Oceano Atlântico Sul entre 1970 a 2019, a mestra Blanka Piekas, do Instituto Oceanográfico (IO) da USP, investigou as relações entre a ocorrência do fenômeno do Dipolo Subtropical do Atlântico Sul e a queda no volume de pesca da Sardinella Brasiliensis – espécie de peixe encontrado especialmente na região costeira do Brasil, conhecida popularmente como sardinha-verdadeira.
Imagem: Esquema simplificado representando o Dipolo Subtropical do Atlântico-Sul (DSAS) em fase positiva. Nele estão representados os dois pólos formados entre as regiões sudoeste e nordeste do Oceano Atlântico. Um dos polos com Anomalia de Temperatura da Superfície Marinha (ATSM) negativa e outro positivo. [Fonte: Blanka Piekas Schlichta – Dissertação de Mestrado]
Dipolo Subtropical do Atlântico Sul é um fenômeno que ocorre no Hemisfério Sul do Oceano Atlântico, reunindo fatores atmosféricos e oceânicos. Assim como os conhecidos El Ninõ e La Niña , ele ocorre naturalmente de tempos em tempos. Porém, sua ocorrência está sendo impactada pelo aquecimento global. “O Dipolo é um modo de variabilidade, o que é intrínseco ao sistema climático. Mas o que a literatura mostra é que há indícios de um aumento de sua frequência nas últimas décadas”, afirma a pesquisadora.
A chamada fase positiva deste fenômeno ocorre quando a Alta Subtropical do Atlântico-Sul – sistema de alta pressão atmosférica característico desta região do planeta – se desloca para o Sul, provocando um aumento da evaporação na camada mais superficial do Oceano. “Isso faz com que a camada de mistura se torne mais fina, e portanto, mais suscetível ao calor emitido pela radiação solar, resultando em um aquecimento da região sudoeste do Atlântico, quando comparada à região nordeste.”, afirma Blanka.
A pesquisa feita pela mestranda identificou que esta fase positiva do fenômeno é a mais prejudicial para o sucesso do recrutamento da sardinha-verdadeira. Porém ela constatou que a sua fase negativa – quando o contrário ocorre, ou seja, um resfriamento do sudoeste em oposição à um aquecimento do Nordeste – também provoca consequências negativas para a espécie.
Imagem: Do lado esquerdo: Padrão oceânico de anomalia de temperatura da superfície do mar correspondente ao composto de anos com menos capturas de sardinha (1988 -2019). Do lado direito: Esquema simplificado do Dipolo Subtropical do Atlântico Sul fase positiva. [Fonte: Blanka Piekas Schlichta – Dissertação de Mestrado]
A pesquisadora, que iniciou seu trabalho de pesquisa em 2020 e defendeu a dissertação no dia 18 de abril de 2023, utilizou programas de computador como Python , RStudio e Climate Data Operator para cruzar os dados disponíveis sobre o volume de pesca de sardinha (disponíveis na plataforma de livre acesso Sea Around Us ) com os períodos de ocorrência do Dipolo Subtropical. Sempre levando em consideração os dois anos de margem, que é o tempo aproximado para a reprodução da sardinha até a sua captura pelos pescadores.
Após a análise desses dados, Blanka propôs a separação da pesca da sardinha brasileira ao longo das últimas décadas em três períodos: E1 – período que vai de 1970 até o fim dos anos 1980; Transição – que vai de 1985 até 1988, quando a captura da sardinha sofreu uma queda acentuada; e dos anos 1988 até os dias atuais, quando o volume de pesca se estabilizou, porém nunca voltando aos patamares de antes.
Imagem: Variação da temperatura do mar do Oceano Atlântico Sul em relação à quantidade de sardinha pescada (com correção de menos dois anos), abrangendo os três períodos estudados pela pesquisadora: E1 (1970-1985), Transição (1985-1988) e E2 (1988-2019). [Fonte: Blanka Piekas Schlichta – Dissertação de Mestrado]
Para a pesquisadora, o que pode prejudicar o sucesso do recrutamento da sardinha são as variações das condições oceânicas e atmosféricas durante as primeiras etapas de vida da espécie: “Nas fases planctônicas , esses organismos não têm locomoção eficiente para vencer as correntes, o que as deixa mais suscetíveis às intempéries do ambiente”.