Variabilidade do Oceano Atlântico limita regimes de chuva da América do Sul

Originalmente publicado em: Agência Universitária de Notícias. Ano 48 nº 28. 29/04/2015.

Descoberta influenciará projeções climáticas futuras

icecoreQuando o momento é de crise hídrica, o regime de chuvas é assunto que interessa a todos os brasileiros. Nessa conjuntura, pesquisa desenvolvida no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP) comprova que a variação de condições superficiais do Oceano Atlântico pode alterar o regime continental de precipitações na América do Sul. De acordo com a doutoranda responsável pela tese, Luciana Figueiredo Prado, essa informação é importante pois influenciará projeções climáticas futuras.

A pesquisa pertence à área do conhecimento chamada Paleoclimatologia, que consiste no estudo das variações climáticas ao longo da história do planeta. Essa ciência utiliza medidas indiretas, os chamados registros paleoclimáticos, que são vestígios ambientais com características que dependem de variações climáticas. A pesquisadora esclarece: “Um exemplo de registros paleoclimáticos são assembleias de pólen: por meio de testemunhos de pólen, pode-se estimar o regime climático de determinada época - mais quente ou mais frio, mais seco ou mais chuvoso - pelas espécies e famílias de pólen encontradas no testemunho sedimentar”.

Luciana explica ainda que testemunhos são amostras cilíndricas extraídas do solo, fundo de lagos, plataformas de gelo e outros ambientes, sendo a informação paleoclimática baseada em variações de características materiais nas camadas depositadas ao longo do tempo. Tais variações podem ser em composição, variações de espécies, espessura das camadas, cor, dentre outros.

Metodologia e resultados

O trabalho baseou-se na análise de registros paleoclimáticos e de resultados de simulações realizadas por modelos numéricos, a partir da qual se investigou a variabilidade climática do leste da América do Sul e Oceano Atlântico adjacente nos últimos 12 mil anos (período conhecido como Holoceno). Esse período, segundo Prado, teve pouca influência antropogênica, ou seja, pouca alteração no balanço de radiação no sistema terrestre causado por atividades humanas.

Além de constatar a importância da influência da variabilidade natural do Atlântico Sul sobre o regime de precipitação da América do Sul, a tese gerou uma série de resultados, sendo um deles particularmente interessante do ponto de vista atual: a menor quantidade de radiação solar recebida pela Terra durante o Holoceno médio (seis mil anos atrás) gerou déficit hídrico em grande parte do leste da América do Sul, com exceção do Nordeste brasileiro – que normalmente é conhecido como a região mais problemática do país em termos de abastecimento de água.

Desafios

A maior dificuldade encontrada por Prado no desenvolvimento de sua pesquisa foi no que diz respeito à coleta de testemunhos marinhos, devido, basicamente, ao custo da amostragem. “Esse procedimento costuma envolver consórcios entre instituições de pesquisa de maneira a suportar financeiramente a coleta, além de necessitar de um navio oceanográfico. Além disso, essa coleta é limitada pela região mais próxima à costa – testemunhos de oceano aberto são extremamente caros”.

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