Modelo desenvolvido na USP prevê impactos de se modificar praias

Originalmente publicado em: Agência Universitária de Notícias. Ano48. Nº 50. 16/06/2015.

Pesquisa procurou estudar forma de praias com desembocaduras no litoral brasileiro

modelo rogacheskPesquisador do Instituto Oceanográfico da USP, Carlos Rogacheski desenvolveu um modelo que, a partir de poucas informações, permite fazer previsões acerca da forma de praias junto a desembocaduras (ou seja, praias em que terminam rios). Para praias sem desembocaduras, já existe um modelo adequado, mas a presença do rio e sua interação com a maré fazem com que tais antecipações sejam mais complicadas.

Trabalhos como esse são importantes por possibilitarem que se anteveja as consequências de eventuais mudanças feitas na praia – especialmente no que diz respeito a obras de engenharia. Rogacheski esclarece: “Quanto mais você conhecer, mais vai conseguir prever. Então no momento que você vai atuar, por exemplo, vai construir um porto ali, você vai saber dizer qual será o impacto. Quanto melhor for essa previsão, mais sucesso e menos problemas você vai ter”.

O pesquisador explica ainda que a dinâmica costeira de uma praia está diretamente relacionada com a dinâmica das ondas: normalmente se faz um ciclo na costa, começando pela onda, que gera corrente e que, por sua vez, é responsável por grande parte do transporte de sedimentos na praia. Por consequência, mudar as condições da onda pode provocar uma mudança na condição de equilíbrio de uma praia, o que em alguns casos pode levar a processos de erosão ou avanço da praia.

É importante ressaltar que o modelo em questão foi feito para analisar períodos longos, não funcionando bem a curto prazo. “Por exemplo, a praia normalmente tende a estar em equilíbrio, então ela pode erodir mas, em longa escala de tempo (acima de 30 anos), a praia vai ser sempre a mesma; se tem uma ressaca, digamos, ela vai erodir em cinco dias, mas num prazo de 30 anos, a praia é aquela ali. Então esse modelo é para período longo, não para uma questão de dias, de meses. A gente tá pensando acima de dez anos”.

Abrindo caminho para o aperfeiçoamento

O modelo foi elaborado a partir de outro já proposto mas que, quando aplicado às praias brasileiras, não se ajustou adequadamente. Procurou-se adaptar marginalmente seus parâmetros, mas só foi possível atingir um resultado satisfatório quando o modelo foi reestruturado.

Foram estudadas, ao todo, 27 desembocaduras ao longo da costa do Brasil, compreendendo os litorais sul, sudeste e nordeste. Devido à impossibilidade de se visitar cada um dos locais, o trabalho foi feito em cima de imagens de satélite, a partir das quais foram obtidos parâmetros.

Entre as dificuldades encontradas por Rogacheski no decorrer da pesquisa estava a ausência de um modelo de perfil – ou seja, que veja a praia da lateral, e não de cima (em planta), como é o caso do trabalho em questão – que se ajuste bem a praias com desembocaduras. É necessário ter modelos em planta e perfil que se adequem para permitir sua aplicação com maior validez a casos reais.

Além disso, a obtenção de dados precisos o bastante foi problemática, o que acabou comprometendo ligeiramente a exatidão dos resultados do trabalho. “Houve uma certa imprecisão, mas a gente tem que aceitar. A ideia é que comecem a usar esse modelo para aprender, aperfeiçoar”.

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