VIII. Os alimentos do krill.

banner antartida

A importância do krill no ecossistema marinho antártico é, sem dúvida, enorme. Por ser um consumidor primário muito abundante e servir como alimento para muitos animais diferentes ele é considerado como um elo central das teias tróficas. Há muito se sabe que o krill é um filtrador do fitoplâncton e que também pode raspar e comer as algas que crescem no gelo (Fig. 1). Parece que ele tem preferência por algumas espécies de algas e é capaz de selecioná-las quando elas são abundantes. Caso elas não ocorram, ele também se alimenta de outras algas não tão apetitosas para ele.

antartida08aFigura 1 – Diatomáceas (microalgas) comumente encontradas no gelo marinho e fonte de alimento do krill (fonte: Alfred Wegener Institute; autor: U. Freier).

O krill tem uma espécie de “cesta filtradora” muito eficiente formada pelas cerdas das seis patas toráxicas, e também possui cerdas especiais para raspar o gelo (Fig. 2).

antartida08bFigura 2: Foto do organismo inteiro (esq.) fonte: theozonehole.com e detalhe da cesta filtradora utilizada para captura de alimento (dir.) museumoftheearth.org.

Pesquisadores japoneses verificaram, em 1996, que o krill também se alimenta de salpas e, provavelmente, de outros indivíduos do zooplâncton, mesmo quando há fitoplâncton disponível. Podemos pensar, então, que em ocasiões de escassez de algas ele pode sobreviver da predação. Sabe-se que, inclusive, ele é capaz de alimentar-se de outros indivíduos da mesma espécie. Alguns autores acreditam também que o krill pode filtrar o que chamamos de neve marinha, em inglês “marine snow” (Fig. 3). A neve marinha é composta por agregados amorfos de detritos orgânicos e inorgânicos e por microorganismos vivos, com alta atividade biológica. A “neve marinha” é também responsável por parte do alimento que chega ao fundo do mar, aonde a produção primária é inexistente.


antartida08cFigura 3 – Neve marinha: agregados amorfos de detritos orgânicos e inorgânicos e por microorganismos vivos, com alta atividade biológica (fonte: news.sciencemag.org; autor: Maille Lyons).

Quando o alimento é muito escasso o krill pode diminuir de tamanho em vez de simplesmente “emagrecer”. Seria como se um homem adulto pudesse ficar com o aspecto de uma criança normal, economizando energia e alimento. Essa versatilidade alimentar do krill é, sem dúvida, um dos aspectos de sua ecologia que fazem dele uma espécie tão abundante. Estudos recentes demonstraram que o krill pode nadar até o fundo e alimentar-se de matéria orgânica presente em sedimentos ricos em ferro. Ao voltar para a superfície ele traz ferro no estômago e pode liberá-lo, tornando-o mais disponível para os produtores primários. Essa descoberta virou notícia. A importância desse processo ainda não está bem esclarecida, mas despertou enorme interesse dos ecologistas, pois o ferro é um dos fatores limitantes da produção fitoplanctônica nos mares austrais. Caso esses dados se confirmem, haverá mais um mecanismo para explicar a grande abundância do krill.


Leituras sugeridas
http://www.antarctica.ac.uk/press/press_releases/press_release.php?id=1534 (para o krill e o ferro)

 

Autores: Arthur José da Silva Rocha; Maria José de A. C. R. Passos; Gabriel Monteiro; Prof. Dr. Phan Van Ngan
Coordenador: Prof. Dr. Vicente Gomes

 

Compartilhe